Confesso que começo essa crônica com um pesar enorme, um
sentimento que mescla dor tristeza, saudosismo e acima de tudo uma nostalgia
infinita. Quem nunca comentou sobre ela em algum lugar? Quem nunca ouviu, ao
dizer que é de Riachão do Jacuípe, alguém falar logo “a terra da barriguda”. Sua fama correu o mundo, e na mitologia da cidade dizia-se
que, quem sentasse embaixo dela virava homossexual (risos), como se a
sexualidade de cada um dependesse de um simples “pé de arvore”.
A verdade é que
nosso símbolo, aliás, um dos, mas acredito que o mais forte que representava o
Riachão, era odiada por alguns, coitada, ali, na dela sem mexer com ninguém, até
em tempos de florada, ela respeitava quem, desavisado (a) embaixo dela sentava,
nem uma florzinha se quer ele lançava sobre estes.
Certo que em minha infância, cheia de duvidas e
expectativas, muitas vezes ali me sentei com meus amados amigos, e saliento que
a “dona barriguda” nada tem haver com minha sexualidade, definida quando eu
nasci, lembro em especial de meu primo Laerte de Antônia de Lenito, quantas prosas
boas ao pé da barriguda tive com ele.
Quantos namoricos saíram dali de baixo, héteros ou homos,
afinal todas as formas de amor valem a pena, quantas sombras com seu aroma primaveril
ela nos deu em dias de sol forte do sertão jacuipense, e aos que ainda a julgam
ou acusam mesmo depois de morta, saibam que a mesma tem como característica principal
uma protuberância com diâmetro maior na base de seu tronco, que lembra uma barriga,
por isso o nome barriguda, que serve para armazenar água extraída através da sua
seiva, que pode matar a sede de muita gente em ocasiões necessárias.
Hoje ela tomba morta ao chão, ontem deu muitas alegrias e
provocou risos, amanhã só deus sabe, corre a boca pequena que será plantada
outra barriguda no lugar desta, assassinada, não se sabe pelos pregos enfiados
dilacerando seu tronco de forma letal, não se sabe se pela “obra magnífica” da
praça, que feriu sua raiz. Certo é que nunca haverá outra barriguda como esta,
podem plantar mil barrigudas por toda a cidade, despertando a fúria de alguns
que ainda teimam em ser preconceituosos em pleno século 21, mas nenhuma
plantada agora terá a historia e a trajetória desta que hoje JAZ Deus sabe
onde.
E eu, tão acostumada a cobrir noticias de violência, mortes trágicas
em acidentes ou crimes, nunca me senti tão triste como estou agora, perdi um
grande pedaço de minha infância, perdi um pedaço de minha historia, perdi uma
grande amiga e o Riachão perdeu seu grande símbolo cultural e mitológico, mas
resta ainda aquele ditado, bem conveniente para a ocasião, ela não morreu,
virou purpurina. Vá com Deus amada barriguda, você sai da vida para entrar para
historia, ADEUS.
POR ALANA ROCHA.