Uma saudade sem fim, que é agravada pela impunidade e falta de respostas, perder um ente querido é muito doloroso, seja de morte natural ou acidentes e desastres, como Brumadinho. A conta matemática da dor pode ser de multiplicar, por mil, quando o parente morre assassinado, some-se a dor o agravante de morte hedionda, brutal e perversa. O resultado desta conta macabra é um vazio no coração e uma dor latente, que não há remédio que amenize, a não ser a morfina da prisão dos culpados por tais atos.
Em Riachão do Jacuípe, dois casos brutais chamaram atenção
da imprensa e do mundo em situações distintas, dois assassinatos com requintes
de crueldade que até hoje a policia não desvendou quem cometeu, até hoje,
familiares, amigos e a população aguarda uma resposta, um culpado, mas nada aparece.
Mas a vida real é bem diferente, em Riachão a pergunta
permanece no ar, quem matou a professora Ienata Rios? Quem matou Marlon da
Chapada? Será que se fosse novela das 9hs teríamos já uma resposta dos vilões da
trama que cometeram tais atos brutais?
CASO IENATA
O ano era 2016, em sua casa, depois de uma noite de sono, mesa posta, detalhe, para dois, alegre e feliz, despertara a professorinha, sem saber que momentos depois dormiria para sempre numa poça do seu próprio sague. Apenas teve tempo de cozinhar um cuscuz, comida preferida de seu noivo, que inclusive chegou a ser preso, como suspeito do crime, mas hoje vive tranquilamente, em liberdade, na cidade de Dias D’ávila. 60 facadas, isso mesmo, 60 facadas tiraram a vida de pró Ienata, a mais querida da escola, a mais querida dos vizinhos, mulher feliz, de uma rotina alegre, amiga de todos, morta, de forma brutal.
CASO MARLON
O ano era 2018, em casa Marlon se prepara para assistir mais um vídeo no youtube e responder seus seguidores no facebook, passava de meia noite, o distrito de Chapada, a cerca de 10 km de Riachão do Jacuípe dorme, está em silencio, como é típico de interior. Calmamente uma caminhonete adentra o povoado, segue em direção à casa do repórter ventania, famoso por seus vídeos polêmicos, feitos de forma simples, com celular, indo ao encontro de suas fontes e entrevistados no seu carrinho simples, já velho e surrado movido a bujão, característica comum no interior de muitos estados. O repórter ventania sabia falar, e muito bem, mas não sabia dirigir, contava com ajuda de amigos que dirigiam pra ele e serviam de cinegrafista, Marlon não tinha formação acadêmica, mas tinha o dom da comunicação nas veias.
Na rua escura a caminhonete para, alguém permanece ao
volante, sentando em sua escrivaninha está Marlon, distraído, não sente que seus
algozes o espreita, um estampido, um cadeado rompido, ele levanta e grita,
perguntando quem o perturbava, inocente, achou ser algum amigo, fazendo alguma
brincadeira, mas, pela sua sombra, do vitral da porta, recebe a primeira e mortífera
bala, mais disparos se seguem, rompendo o silencio do sono sereno dos moradores
do tão pacato povoado, a voz de ventania era calada para sempre pelas rajadas
mortais de uma arma.
A mãe e o irmão dormiam na casa em frente, Trindade, mãe de Marlon, tem um nome bem peculiar, quem já ouviu falar da santíssima trindade, saberá o que digo, mas a santíssima paz do coração desta mãe, nunca mais foi a mesma. “As vezes ouço os barulhos dos tiros e acordo assustada, parece um pesadelo”, sim, um pesadelo sem fim, só quem é mãe sabe a dor que é perder um filho, afinal a ordem natural, mesmo que nós filhos também relute, a ordem natural é filhos velarem pais, não o inverso.
O caso de Marlon foi falando até fora do pais, cobranças por
punições foram pedidas, mas com a mesma tranquilidade que entrou, a caminhonete
saiu de Chapada, atravessando o silencio da madrugada, o silencio da
impunidade, levando com ela os assassinos de Marlon da Chapada, e levando a
bordo de sua carroceria, a certeza da impunidade na imagem da dama da foice
sentada de carona, seguindo um rumo ignorado, rumos ignorados, fugas ignoradas,
pistas deixadas tão contundentes, mas como a vida é real e não uma novela, até
quando os vilões fora da ficção ficarão do lado de cá, na plateia dessas
historias macabras que seguem como uma novela infinita?
Marlon de Chapada e Ienata Rios, a mancha de sangue, a cicatriz
aberta e incurável, que mancha a justiça e alimenta a impunidade na cidade
outrora calma, tranquila, de senhoras sentadas à porta de casa para tomar a fresca,
mas que hoje se tranca no pavor das 21hs, pois a dama da foice é traiçoeira, e
ronda, rindo da certeza de que pode ter mais uma vida servida de bandeja com o
tempero do silencio da impunidade, do segredo do instrumento que a fez beber de
mais uma alma. Que breve eu possa trazer aqui a noticia de ambos crimes solucionados,
assim como na novela Vale Tudo, que na sexta-feira (8) revelará em seu último
capitulo a verdadeira assassina de Odete Roitman, Leila, mas como na vida real,
acaba impune pelo ato e com o marido dando uma banana para o Brasil, fugindo em
um avião particular para o exterior, qualquer semelhança com a realidade, não
será uma mera coincidência.
POR ALANA ROCHA.
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