quinta-feira, 14 de setembro de 2017

CRÔNICA: Símbolo mitológico de Riachão do jacuípe, o pé de barriguda morre e foi retirado da Praça da Matriz

 


Confesso que começo essa crônica com um pesar enorme, um sentimento que mescla dor tristeza, saudosismo e acima de tudo uma nostalgia infinita. Quem nunca comentou sobre ela em algum lugar? Quem nunca ouviu, ao dizer que é de Riachão do Jacuípe, alguém falar logo “a terra da barriguda”. Sua fama correu o mundo, e na mitologia da cidade dizia-se que, quem sentasse embaixo dela virava homossexual (risos), como se a sexualidade de cada um dependesse de um simples “pé de arvore”. 

A verdade é que nosso símbolo, aliás, um dos, mas acredito que o mais forte que representava o Riachão, era odiada por alguns, coitada, ali, na dela sem mexer com ninguém, até em tempos de florada, ela respeitava quem, desavisado (a) embaixo dela sentava, nem uma florzinha se quer ele lançava sobre estes.




Certo que em minha infância, cheia de duvidas e expectativas, muitas vezes ali me sentei com meus amados amigos, e saliento que a “dona barriguda” nada tem haver com minha sexualidade, definida quando eu nasci, lembro em especial de meu primo Laerte de Antônia de Lenito, quantas prosas boas ao pé da barriguda tive com ele.

Quantos namoricos saíram dali de baixo, héteros ou homos, afinal todas as formas de amor valem a pena, quantas sombras com seu aroma primaveril ela nos deu em dias de sol forte do sertão jacuipense, e aos que ainda a julgam ou acusam mesmo depois de morta, saibam que a mesma tem como característica principal uma protuberância com diâmetro maior na base de seu tronco, que lembra uma barriga, por isso o nome barriguda, que serve para armazenar água extraída através da sua seiva, que pode matar a sede de muita gente em ocasiões necessárias.


Hoje ela tomba morta ao chão, ontem deu muitas alegrias e provocou risos, amanhã só deus sabe, corre a boca pequena que será plantada outra barriguda no lugar desta, assassinada, não se sabe pelos pregos enfiados dilacerando seu tronco de forma letal, não se sabe se pela “obra magnífica” da praça, que feriu sua raiz. Certo é que nunca haverá outra barriguda como esta, podem plantar mil barrigudas por toda a cidade, despertando a fúria de alguns que ainda teimam em ser preconceituosos em pleno século 21, mas nenhuma plantada agora terá a historia e a trajetória desta que hoje JAZ Deus sabe onde.

E eu, tão acostumada a cobrir noticias de violência, mortes trágicas em acidentes ou crimes, nunca me senti tão triste como estou agora, perdi um grande pedaço de minha infância, perdi um pedaço de minha historia, perdi uma grande amiga e o Riachão perdeu seu grande símbolo cultural e mitológico, mas resta ainda aquele ditado, bem conveniente para a ocasião, ela não morreu, virou purpurina. Vá com Deus amada barriguda, você sai da vida para entrar para historia, ADEUS.



POR ALANA ROCHA.

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